Lombardi, o Fiel

Qual desses é meu marido Lombardi? É tão difícil reconhecê-lo sem o saco de papel na cabeça.

Provavelmente foi isso que a mulher do nosso querido Lombardi disse ao visitá-lo no IML. A bem da verdade se ele quisesse forjar a própria morte seria muito simples. Era só botar o corpo de qualquer indigente no caixão, já ninguém nunca viu o seu rosto. Mas eu sou meio cético com relação a teorias da conspiração. Acho que nosso amigo locutor morreu devido a avnçadíssima idade. Foi esse o jeito que Deus escolheu para levar para junto de si um de seus servos mais fiéis.

Para quem não sabe, Lombardi é quem fazia a voz de Deus nos tempos de Moisés.

A bem da verdade, o nosso Deus é o Deus dos judeus e tem uma voz anasaladinha, anasaladinha. Não ficava bem Deus dar uma dura em Adão falando pelo nariz, então, desde aquela época, O Criador se utiliza de “Locutores Oficiais das Santas Hordes” que fazem a sua voz nos momentos necessários.

Um deles é o Cid Moreira, que é usado até hoje em momentos solenes como quando Nosso Senhor tacou fogo na sarça ardente para falar com Moisés e matreiramente deixou O Cid escondidinho atrás da moita dizendo: “Eu sou o teu Deus que vai te tirar da servidão no Egitoooo…Tirai as sandálias perto de mim Moisés, que esse solo é sagradoooo…Botai de volta as sandálias que eu não aguento esse chulé, hebreu que não lava o pé”

O Lombardi era o locutor número 2, que era utilizado em momentos menos solenes como quando Balãao discute com o próprio jumento (!) porque este empacou bem na hora em que ele ia dar cabo dos israelitas. Lombardi fazia a voz do jumento:

“Patrão, Patrão, por que me maltratas?” – frase esta que mais tarde seria utilizada inúeras vezes mas referindo-se a outra pessoa.

Certa vez um comerciante judeu orou ao Senhor pedindo-lhe que ajudasse com suasa vendas que andavam mal aquele ano. Foi então que Lombardi, fazendo a voz do Altíssimo disse:

“Constrói tu uma arca e enchei com um casal de bichos…não não peraí esse é o texto do outro locutor que ele esqueceu aqui…vejamos…hmm…Eu te tirei da servidão do Egito…não…hmmm…ah sim! Isso sim! Enchei um Baú com tudo o que achares de valor e sorteai o semanalmente entre os seus clientes!” O ano era 500 a.C., o judeu se chamava Abravanel e esse era o protótipo de algo que seria um verdadeiro sucesso nos séculos seguintes: “O Baú da Felicidade”.

Junto com uma mocinha de 400 anos chamada Hebe, os dois montaram um negócio e começaram a prosperar juntos e Lombardi abandonou Deus, seu antigo patrão para servir aquele judeu que mudaria o nome para Sílvio Santos. Como castigo, O Altíssimo desfigurou o rosto de seu antigo empregado obrigando o a usar um saco na cabeça até o fim de seus dias para não espantar os fregueses de seu novo chefe.

Com o passar dos séculos, os amigos foram prosperando e acumulando riquezas até chegar ao ponto em que conseguiram comprar da Igreja Católica uma parte do norte da Itália que foi rachada entre os amigos de seu Sílvio sobrando para Lombardi uma regiãozinha que ganhou o nome de Lombardia e a qual ele se encarregou pessoalmente de  povoar, fertlizando todas as mulheres do local. Até hoje a Lombardia é a região mais populosa da Itália e de hora em hora o Lombardi contava seus descendentes: 01, 02, 03, 04, 05, 06…

Infelizmente com a ascensão do Fascismo na Itália, os amigos de Sílvio perderam sua fortuna e suas terras e tiveram que ser exilados, com Baú e tudo, no Brasil “aquele país que tá na corda bamba, que só tem carnaval, futebol e sambaaaa”* Chegando aqui, Sílvio Santos conseguiu reerguer-se e tentou reconstruir em terras brasileiras o Império que tinha no Velho Mundo readaptando atrações antigas como o “Show de Calouros”, criado no Império Romano, só que desta vez não poderia usar gladiadores e nem leões haja vista que os únicos animais os quais tinha permissão para fazer o show eram Pedro de Lara e Aracy de Almeida. E como sempre Lombardi estava lá.

Lombardi ainda brilhou no cinema. Apesar das desavenças com Hollywood (Segundo Sílvio Santos, “Rocky – Um lutador” era plágio de um filme que teria escrito para um de seus subordinados “Roque – Um puxa-saco”), Sílvio Santos produziu dois filmes explorando a fama de seu mais fiel companheiro: “O Homem Elefante versus  O Peru que Fala ” dirigido por David Lynch e que retrata a relação de amor e ódio em que viviam e “O Homem sem Face”   dirigido e estrelado por Mel Gibson, que é uma justa homenagem ao homem cujo rosto era mais difícil de ver que enterro de anão.

"O Homem Elefante versus o Peru que Fala" foi produzido por Carlos Alberto de Nóbrega e tinha Sérgio Mallandro no elenco

Mel Gibson sobre "O Homem sem Face" "Seu Sílvio não viu mas a filha dele viu e falou que é muito bom".

Infelizmente, Lombardi não está mais entre nós. E assim como os amigos de infância de Sílvio Santos que já morreram (Dercy Gonçalves, Nair Bello, Ronald Golias, Matusalém…), leva consigo um pouco da lucidez do Homem do Baú. A cada dia que passa Sílvio Santos está mais senil, sem-noção e desagradável e a tendência e que isso piore a medida em que vá enterrando seus amigos. Não acredito nessas coisas, mas eu juro que hoje eu ouvi um corinho de anjos no céu cantando “Sílvio Santos vêm aí, Olê Olê Olá! Sílvio Santos vem aí, Olê Olê Olá…”

*Trecho da música “Johnny” dos Garotos Podres.